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Gerente da Pfizer confirma que oferta de vacinas ao Brasil ficou sem resposta

Depoimento foi feito nesta quinta-feira, 13 de maio

A CPI da Covid ouviu nesta quinta, 13 de maio, o gerente-geral da farmacêutica Pfizer para a América Latina, Carlos Murillo. Em seu depoimento, ele confirmou que a empresa apresentou ao governo brasileiro no ano passado uma oferta para a comercialização de 70 milhões de doses da vacina contra a Covid-19 e que ficou sem resposta por dois meses. O episódio havia sido contado à CPI no dia anterior por Fábio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação da Presidência da República.

Segundo Murillo, a proposta contemplava a entrega de 1,5 milhão de doses de vacinas ainda nos meses finais de 2020. A oferta foi elaborada pela Pfizer em agosto, enviada ao presidente Jair Bolsonaro, ao vice Hamilton Mourão e a outras autoridades do governo, e só teve algum encaminhamento após Wajngarten ter conhecimento da iniciativa por meio de uma conversa informal com o empresário Marcelo de Carvalho, proprietário da Rede TV!. Murillo relatou que teve uma conversa telefônica com Wajngarten sobre o assunto e que, no mesmo ato, Wajngarten levou o telefone ao gabinete de Bolsonaro, que estava em reunião com o ministro da Economia, Paulo Guedes - e que o assunto foi, então, debatido entre eles.

Murillo disse que a primeira proposta que a Pfizer fez ao Brasil, que tinha o planejamento de entregas apenas até o fim do primeiro semestre de 2021, contemplava 18,5 milhões de doses: 1,5 milhão em 2020, 3 milhões no primeiro trimestre de 2021 e os 14 milhões restantes no segundo trimestre de 2021, o que totaliza 18 milhões de doses.

Ao expor os números, o gerente foi confrontado pelo presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), que resgatou o fato de que o contrato vigente entre a Pfizer e o governo brasileiro prevê a entrega de 14 milhões de doses até o fim do segundo trimestre. Segundo Aziz, as falas indicariam que a falta de resposta do governo federal levou o Brasil a dispor de menos 4,5 milhões de doses do imunizante. Em resposta, Murillo disse que não é possível ter a certeza de que os 18,5 propostos no ano passado seriam entregues, porque na ocasião a vacina ainda não contava com a aprovação definitiva da Anvisa.

O gerente da Pfizer também confirmou uma negativa que a empresa fez em fevereiro em resposta a uma declaração do então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. Na ocasião, Pazuello disse que a empresa havia ofertado apenas 6 milhões de doses ao Brasil. Murillo relatou que a oferta havia sido de 70 milhões. Outro ponto de discordância entre Pazuello e a empresa, relatado por Murillo, diz respeito às cláusulas do contrato para a compra de vacinas, chamadas de "leoninas" pelo ex-ministro. Murillo disse que não concordava com a avaliação de Pazuello e que o contrato estabelecido pela Pfizer ao Brasil seguia um modelo que a empresa apresenta a todos os países com quem negocia a venda de imunizantes.

 

A "vacina do jacaré"

Murillo foi perguntado sobre o impacto da declaração de dezembro de Bolsonaro sobre a vacina da Pfizer - na ocasião, contrariado com os termos da negociação do imunizante, o presidente afirmou: "lá no contrato da Pfizer, está bem claro: nós (a Pfizer) não nos responsabilizamos por qualquer efeito secundário. Se você virar um jacaré, é problema seu".

O gerente da farmacêutica evitou uma resposta direta à fala de Bolsonaro, mas declarou que a empresa é "baseada em ciência" e não se pauta por declarações. Ele também disse que não ouviu falas com o mesmo teor das pessoas do governo federal com quem empreendeu negociações.

Murillo também disse não ter tratado com uma suposta "assessoria paralela" de Bolsonaro. A expressão ganhou corpo na CPI da Covid desde os primeiros dias da comissão, lançada pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, e se refere a um grupo de pessoas que municiaria o presidente com informações que contrariam as diretrizes das organizações da saúde - e estimulam condutas como o tratamento precoce e o combate ao distanciamento social e ao uso de máscaras.

O gerente da Pfizer declarou que todos os seus encontros com pessoas que trataram em nome do governo federal foram com membros oficiais do governo, como integrantes do Ministério da Saúde e do Palácio do Planalto. Ele também destacou que seu principal interlocutor no Ministério era Élcio Franco, que foi secretário-executivo da pasta durante a gestão de Eduardo Pazuello.

 

Antes do depoimento, briga na CPI da Covid

A fala de Murillo foi precedida por mais um momento de troca de farpas entre parlamentares governistas e adversários do governo de Jair Bolsonaro na CPI da Covid. O senador Eduardo Girão (Podemos-CE) se queixou do fato de que a comissão não estar abordando denúncias que envolvem governadores e prefeitos, como está no plano inicial de investigações. Os parlamentares também divergiram sobre convocações para depoimentos.
E em sua pergunta inicial para Carlos Murillo, o relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), recordou o embate que teve na quarta com o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e disse que a presença do presidente Bolsonaro em Alagoas nesta quinta era uma "clara provocação a esta comissão".

 

Fonte Gazeta do Povo

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